sexta-feira, 6 de junho de 2008

Crianças


Criança que faz arte, levanta e parte – vai para marte.
É seu estandarte; a flecha e o bacamarte – um peixinho espadarte.
Alegria reparte e coleciona no encarte – me livra do enfarte.
A felicidade comparte; não quando a tocaste – chora porque a ansiaste.


No mundo, tem a missão, muita ilusão – um grande coração.
Sofre aflição; foge da agressão – detesta injeção.
Criança alta ou não; no desenho, o cascão – sofre o anão.
Sofre opressão; dói o pai na prisão – trilhou a perdição.

Muda e sem audição, tem aptidão – será um artesão.
Criança com intuição, sofre a intimidação – sangra no arpão.
Dói a luxação se tomam seu pão – já tem marcas da mutilação.
Sente a judiação; o professor mandão - o pai patrão.

Criança inteligente; sempre comovente – sabedoria de descendente.
Mesmo doente, sempre contente – é sempre onipotente.
Na vida crescente; não tem contingente é crente – mesmo carente.
De todos, confidente; da sabedoria, expoente – sua voz é fluente.

Criança valente, sentinela vigilante – vidente e saliente.
Pura e inocente, brinca com o pente - gosta de refrigerante.
Na ajuda, é assistente; sempre conseqüente - não foge do batente.
Estuda bastante; limpa e escova o dente – com o banho, exigente

Criança que ama o pai, chama quando diz ai – anda e também cai.
No colo sempre vai, pede carinho papai! – também o distrai.
Diz o pai: com anjos sonhai; a benção alcançai! – Oh! anjos cantai!
Mãos, aos céus levantai, olhos, para o alto olhai! - nas nuvens navegai!

Criança desaparecida, de todos esquecida – mal vestida.
Diferente e parecida, com saúde e ferida – oh! senhora Aparecida!
Clara e enegrecida, alegre e aborrecida – a queixa é quando ferida.
Entristecida, sem alimento abastecida – com fome, dói a barriga.
Feliz pela vida, mas triste por ser nascida – chora sem saída.

Que levanta de madrugada, trabalha algemada – fica aleijada.
Do pai, a chinelada; do padrasto, apalpada – a inocência ultrajada.
Criança acoitada, judiada – pela mãe, desrespeitada.
Pela madrasta, abusada ou no mundo largada – pelo mau é puxada.

Infância mal passada, por muitos pisada – no escuro é tragada.
Criança da pesada, molhada, mal olhada – de lado é deixada.
Do lar arrancada, pé na estrada – é longa a caminhada.
Com isca cevada; com droga viciada – na vida tatuada.

Criança feliz; brinca no chafariz – outras, com o giz.
Vou ser atriz, arrumar o nariz – olha os quadris.
Vou ser um Juiz; no sapato verniz – serei bom aprendiz.
Ou embaixatriz; vai! Deus te quis – fica longe dos imbecis.

Criança linda, seja bem-vinda – outras, não ainda.
Fique na berlinda; o espelho te blinda – mas não finda.
Os olhos do mundo brinda, mas é cedo ainda – vem minha linda.
Sua infância intervinda; do amor não vinda – mas é cedo ainda.

Criança! seja forte, te desejo sorte – homem de porte.
Pratique esporte; vá até o norte – use o transporte.
Não se importe, as dificuldades recorte – de frente aporte.
Tire o passaporte, nas dores suporte – ferramentas importe.

Criança! virão as dores; mas também as flores – mais tarde, amores.
Vêm os caçadores, os roedores – cuidado nos bastidores.
Verão os ditadores, fuja dos raptores – a escada dos horrores.
Têm os palpadores, sobem os elevadores – finalmente, os matadores.

Criança adotada, bem dotada – a maltratada.
Criança achada, aleijada – pelo mundo abalada.
Criança inventada, pelo frio gelada – sem roupa desnudada.
Expatriada, bombardeada, sem lar, pisada – pela dor, picada.

Criança salgada, pela ignorância tapada – na tristeza selada.
Criança violada, do lar tirada – por ser pobre zombada.
Criança da calçada, sem esperança, sentada – a zombam de safada.
Criança da beleza cegada, a vida a ela foi negada – pobre desgraçada.

Criança querida, para ela sorri a vida – do conforto embebida.
Nunca teve lombriga, no berço de ouro foi trazida – no conforto parida.
Sem dores acolhida, seus desejos sem medida – seu pai tem uma jazida.
No conforto desmedida, desconhece a dor da vida – cuidado! tem descida.

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